CRESCIMENTO ESPIRITUAL

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Segunda parte Para resumir, Orí é a essência da consciência em todas suas manifestações. Òrísá são as qualidades do Orí tal como encontram expressão com o passar do espectro de fenômenos naturais. Para usar uma analogia, Orí seria como a luz que passa através de uma janela de vidro. Òrísá seria o efeito da luz que passou através de uma janela de vidro tinta de diferentes cores. A luz que brilha através de um vidro vermelho tem qualidades físicas e emocionais diferentes da luz que brilha através de um vidro azul. Em términos humanos, Ifá ensina que todos recebem o poder da percepção do Òrísá chamado Orí. A maneira como é moldada a percepção cai sob a influência de uma ampla fila de Òrísá. Nas tradições ocidentais de culto aos Òrísá, o Òrísá que molda o Orí de um indivíduo é referido como o Òrísá guardião ou Santo.

Na linguagem do Lucumí e Santería cubanos, o Òrísá guardião é referido também como o Oito do indivíduo. O som ch na pronúncia cubana de palavras Yórùbá se faz usualmente em referência ao som s no alfabeto Yórùbá normal. Isto sugere que a palavra oito é uma possível separação da palavra Osá. Em Yórùbá, a palavra VosÀ significa “lacuna”. Como uma Força na Natureza, a Lacuna representa a água quieta. Como símbolo do Ifá a Lacuna representa as Águas Originárias da Criação.

Dentro do Lucumí e Santería cubanos, a cerimônia de iniciação aos awo Òrísá (Mistérios das Forças na Natureza) chama-se Kari Oito. A palavra Kárí em idioma Yórùbá significa ou rodear algo ou evitar. Uma tradução literal do Kari Oito ou Kari Osá seria “dar toda a volta ao redor da lacuna”. Em um contexto isto ritual sugere uma viagem simbólica ao redor das Águas Originárias. Dar a volta ao redor das Águas Primárias da criação sugere também que algum tipo de busca está tendo lugar. Apoiado nos ensinos orais do Ifá, parece que o que se está procurando é a essência original da consciência. Alguma forma de culto ocidental aos Òrísá associou aos Òrísá com Santos católicos. Isto foi feito originalmente como uma maneira de ocultar o verdadeiro significado detrás das cerimônias coletivas em um momento no que a religião africana estava suprimida. Em minha experiência, parece que este mecanismo de sobrevivência tendeu a identificar muito aos Òrísá com sua manifestação antropomórfica. Quer dizer, há uma ênfase acrescentada na maneira em que os Òrísá realizam a personalidade humana, e uma ênfase menor na relação interdimensional expressa pelos Òrísá. Em outras palavras, os Òrísá existem tanto como um princípio organizador dentro da consciência humana, como um princípio organizador dentro da Natureza.

Em Yórùbá, a essência originária da consciência se chama Ìpònrí. O prefixo ìpé significa chamar, e Orí significa sua consciência. A tradução literal do Ìpònrí seria “chamar os poderes da consciência. Isto sugere que os poderes da percepção que organizam a consciência normal carecem de algum ingrediente essencial que precisa ser chamado à existência. Esta é uma palavra difícil de definir por meio da análise da linguagem, devido a que a palavra Ìpònrí aparece em alguma literatura Ifá como Ìpònrí. Aqui o prefixo ìpó é uma referência ao dedo gordo do pé. No contexto da veneração aos antepassados do Ifá, o dedo gordo do pé é o laço entre a consciência individual e a consciência dos antepassados. A maneira como isto ocorre durante um ritual se considera tabu discuti-la, embora sim dirige a atenção ao laço entre a consciência individual e a sabedoria dos antepassados. Segundo as escrituras Ifá, Ìpònrí vive em ÌkÒlé Òrun (Reino dos Antepassados) como o dobro espiritual do Orí que vive em Ìkòlé Aye (Mundo). Tanto Ìpònrí como Ìpònrí se usam para referir-se ao que se lamba o “Self Superior” nas formas ocidentais da teologia. O conceito Ifá de crescimento espiritual está apoiado na ideia de que inerente na estrutura de Orí, está o desejo de Orí de expressar sua natureza essencial. Isto sugere que o Orí está motivado pelo desejo de alinhar-se com o Ìpònrí. O processo de criar uma união entre Orí e Ìpònrí ocorre por meio do desenvolvimento de bom caráter. O caráter que é gerado por este reunir do self e do Self Superior se chama Ìwà-Pèlè, o que significa “bom caráter”, ou mais exatamente “caráter gentil”.

Ifá ensina que o Ìpònrí existe do começo do tempo e serve como uma âncora para a consciência individual enquanto que ela progride ao longo das diversas etapas de àtúnwá (Reencarnação). Isto sugere que o processo de construir ìwà-pèlè é uma viagem contínua que transcende as limitações temporárias de uma etapa particular de àtúnwá. Os rituais Ifá que estão desenhados para alinhar o Orí e o Ìpònrí se chamam Ebori, que significa elevar a cabeça. O ritual do Eborí é o procedimento para pôr o Orí e o Ìpònrí em perfeito alinhamento. As histórias no capítulo prévio são todos exemplos de esforços pessoais para desenvolver bom caráter no curso de lutas da vida real. Quando alguém vem a algum awo (Adivinho) com um problema, a experiência de uma pessoa em particular pode ser adicionada ao texto do Ódù como um exemplo do modo em que uma questão em particular se move para a resolução. As experiências pessoais que são adicionadas ao corpo da literatura sagrada, fazem das escrituras Ifá um corpo de sabedoria vivente, em crescimento, que está enraizado na ideia da transformação espiritual. As histórias no capítulo prévio são todas exemplos de esforços pessoais para desenvolver bom caráter no curso de lutas da vida real. Quando alguém vem a algum awo (Adivinho) com um problema, a experiência de uma pessoa em particular pode ser adicionada ao texto do Ódù como um exemplo do modo em que uma questão em particular se move para a resolução. As experiências pessoais que são adicionadas ao corpo da literatura sagrada, fazem das escrituras Ifá um corpo de sabedoria vivente, em crescimento, que está enraizado na ideia da transformação espiritual. A personalidade é determinada pela herança e pelo ambiente. Na personalidade há elementos que são comuns a todos os seres humanos e que dependem da organização do seu Orí em cada espécie. Entretanto, cada ser humano é diferente, em certo aspecto, dos demais que o circundam. Esta individualidade é função da personalidade. O modo habitual de reação emocional do indivíduo, ou seja, o seu temperamento – é constituído por sentimentos e impulsos vitais, característicos daquele indivíduo. O temperamento e o caráter se integram unitariamente no seio da estrutura da personalidade. É a partir do segundo aspecto, do campo denominado de cultura, que se pretende, aqui, apontar algumas contribuições que, a nosso ver, são fundamentais para o Movimento Negro no Brasil.

A opção, a rigor, não é por “um lado” ou um pólo distinto e único mas por uma totalidade na qual as divisões formam partes, ou pólos, que na realidade não estão separados mas que se relacionam e se transformam mutuamente. Ou seja, em nossa concepção, não se processa a separação arbitrária entre Cultura, Economia e Política, por exemplo. Isso porque entendemos cultura como um campo, e um conceito, inseparável do campo e do conceito de política, se tratar política com um significado amplo e que se traduz pelas ações, pelas práticas e pelo pensamento, pela criação de novas condições de vida, enfim, se tratarmos político como sinônimo de ação transformadora da realidade. Para trabalhar esse conceito amplo de cultura, que se aproxima e as vezes se confunde com o conceito de política, é preciso superar o dualismo, a visão cartesiana ocidental que tudo separa e tudo divide. Para isso poderíamos recorrer aos clássicos, aos melhores momentos do pensamento ocidental, na sociologia, na antropologia e mesmo na filosofia e estabelecermos um diálogo crítico com eles, dentro do leque teórico que se baseia na lógica dialética. Mas essa tarefa, além de exaustiva, pode se mostrar inócua se comparada à outra grande tarefa colocada ao Movimento Negro que é aquela destinada a valorizar e dar visibilidade ao povo negro na sua existência integral, ou seja, a tarefa de mostrar a cultura negra em todas as suas amplas possibilidades. Porque, então, recorrer apenas ao arsenal teórico ocidental se somos portadores de uma cultura milenar que traz em si e em sua história as mais amplas possibilidades de compreensão do movimento da vida, da história e da própria condição humana?

É com tranquilidade que afirmamos que o dualismo da cultura ocidental, que se acentuou com o judaísmo-cristianismo e suas vertentes maniqueístas, já estava superado há pelo menos seis mil anos quando os negros conceberam filosoficamente o movimento – aqui entendido não apenas como deslocamento, mas como contrário do estático, quer no pensamento quer na vida em sociedade – como consequência do choque eterno entre os contrários, concebendo esses contrários não como pólos separados mas como partes de uma mesma realidade. A tradução mais lúcida desse movimento tem nome, tem imagem, tem força, tem história: Esta é uma coletânea de informações, resultante de um trabalho de pesquisa sobre o entendimento de Orí e do seu culto, que visa contribuir com a manutenção e o registro do conhecimento adquirido através da oralidade. Foi produzido de forma a conduzir o leitor ao entendimento prático e claro, este material que é direcionado a sacerdotes da cultura Yórùbá conscientes de seu papel dentro do culto e fora do culto. De acordo com o conhecimento e a doutrina Yórùbá, é fundamental o respeito hierarquia de valores e de posições sacerdotais detentoras de poder de exercer determinados rituais. Entre estes se encontram as ÀJÉ – bruxas, os OSO – feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano. Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas maquinações maléficas imprevisíveis.

Todo ORI, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um ORI, sendo sinal dessa transformação uma cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar.

O ORI, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ORI INU está bem, todo o ser do homem está em boas condições.

Como foi dito, nossos ORI espirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: APARI-INU e ORI APERE – APARI-INU representa o caráter (natureza),

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