DESTINO HUMANO
Podemos perceber que a compreensão sobre o papel que Orí desempenha na vida de cada homem está intimamente relacionada à crença na predestinação
Na aceitação de que o sucesso ou o insucesso de um homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do Orun para o Àiyé. A esse destino pessoal chamamos Kadara ou Ipin e é entendido que o homem o recebe no mesmo momento em que escolhe livremente o ORI com que vai vir para a terra.
Orí desempenha um papel importante para os seguidores de IFÁ. Nele acredita-se que escolhemos nossos próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios do Òrísá IJALA MOPIN. A esfera de ação de IJALA é junto a Olódùmarè e é ele que sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são documentadas pelas divindades que chamamos de ALUDUNDUN. Um verso de IFÁ explica esta questão:
Você disse que foi apanhar o seu ORI.
Você sabia onde Afuwape apanhou o seu ORI?
Você poderia ter ido lá para apanhar o seu.
Nós pegamos nossos ORI nos domínios de IJALA,
Assim somente nossos destinos diferem.
IJALA é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o ORI e o ODU – signo regente de seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito. IJALA, embora notável em sua habilidade, não é muito responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças defeituosas: pode esquecer-se de colocar alguns acabamentos ou detalhes desnecessários, como pode, ao levá-las ao forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente. Tais cabeças tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente, um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas, estará destinando a fracassar na vida.
Durante sua jornada para a terra, a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará mais danificada ainda. Todo o esforço empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada para reparar tais estragos. Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se próspero e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção real de tudo aquilo que se proponha a realizar. O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é necessário despender para reparar a própria cabeça.
Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha de um bom ORI acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto que escolheram um mau ORI têm poucas esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando. Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas: Como saber se a escolha do próprio ORI foi boa ou má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem?
O Jogo divinatório de IFÁ possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio ORI, saiba a respeito do ORISA ou IRUNMALE que deve ser cultuado e conheça seus EWO – proibições quanto ao consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais. Muitas referências são feitas às relações entre ORI e o destino pessoal. O destino descrito como IPIN ORI – a sina do ORI – pode ser dividido em três partes: AKUNLEYAN, AKUNLEGBA E AYANMO.
AKUNLEYAN é o pedido que você fez no domínio de IJALA – o que você gostaria especificamente durante seu período de vida na terra: o número de anos que você desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que você espera obter, os tipos de parentes que você deseja.
AKUNLEGBA são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo: uma criança que deseja morrer na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele ou dela.
AYANMO é aquela parte do nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em que nascemos, por exemplo.
Ambos, AKUNLEYAN e AKUNLEGBA podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau, dependendo das circunstâncias.
Assim o destino descrito como IPIN ORI – a sina do ORI pode sofrer alterações em decorrência da ação de pessoas más chamadas como ARAYE – filhos do mundo, também chamadas AIYE – o mundo ou ainda, ELENINI – implacáveis (amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas.
Entre estes se encontram as ÀJÉ – bruxas, os OSO – feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano. Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas maquinações maléficas imprevisíveis. Todo ORI, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um ORI, sendo sinal dessa transformação uma cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar. O ORI, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ORI INU está bem, todo o ser do homem está em boas condições. Como foi dito, nossos ORI espirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: APARI-INU e ORI APERE – APARI-INU representa o caráter (natureza), ORI APERE representa o destino.
Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela vem com mau caráter (natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente comprometida. O destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser sustentado por um bom caráter. Este é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser arruinado pela ação do homem. IWA RE LAYE YII NI YOO DA O LEJO, ou seja, – “Seu caráter, na terra, proferirá sentença contra você”.
MEUS ANTEPASSADOS DORMEM NA MINHA LÍNGUA, FORMAM MINHAS PALAVRAS, PENSAMENTOS QUE NÃO PENSEI ME ACOMPANHAM E ME SUSTENTAM: É A MINHA CULTURA, ORI MI O! Meu ORI! SE RERE FUN MI! Se alegre comigo!
Ifa diz. Tudo o que expressa dinâmica e forma Segundo Ifá, tudo o que expressa dinâmica e forma no Universo está guiado pela consciência a qual se faz referência como Orí.
Existem várias definições de Orí que variam segundo o contexto. Uma tradução direta seria o pronome pessoal ele ou ela, do prefixo Ou, e percepção, do sufixo RI. Em términos literais, Orí significa Sua Percepção.
Em nossa linguagem, Orí seria sinônimo de consciência. Desgraçadamente a palavra conscientiza não suporta as associações espirituais que estão expressas na significação Yórùbá do término. Por exemplo, acredita-se que o princípio animador de Orí é uma Força Espiritual na Natureza. No Ifá, todas as Forças na Natureza se chamam Òrísá. Isto significa que Orí se refere tanto ao princípio organizador da percepção humana, como ao Espírito Orí que anima este princípio. Segundo Ifá, todos os Òrísá estão dotados com o Espírito do Orí, e todo o Orí vem de uma Fonte comum que se chama Obàtálá (Rei de Pano Branco). Este conceito está em marcado contraste com a visão ocidental do mundo em que a consciência está limitada às memórias da alta percepção humana.
A palavra Òrísá, como muitas outras palavras Yórùbá usadas em um contexto religioso, tem diversas definições segundo o uso. Òrísá é um apócope do prefixo Ou que se usa em Yórùbá para converter adjetivos em nomes; RI significa “ocultar algo da vista, ou enterrá-lo”; seja significa ou reunir, ou recolher várias coisas.
Apoiando-nos nesta análise da palavra Òrísá, que foi proporcionado pelo Adekoye Williams, o significado original sugere o reunir ou recolher Forças escondidas encaixadas em, e formando a Natureza de, todas as coisas em geral e da identidade humana em particular.
Sugere além que a Energia Criativa Universal, que é intrínseca em todas as coisas na Criação está fragmentada ou não estruturada até que Orí (Espírito do self interior), Ìpònrí (Espírito do self superior) e àse (Força Vital) estejam em completo alinhamento e união harmoniosa.
O sufixo sà, que é a maneira ocidental comum de escrever a palavra, vem da palavra Yórùbá seja que significa “recolher um por um”. Em términos simples, a palavra Òrísá se refere a um princípio organizador para definir todas as formas de consciência que existem na Criação.
Segundo Ifá, os Òrísá são manifestações de diferentes qualidades de poder dentro do Universo, e cada qualidade de poder tem um elemento de auto consciência que se chama Orí.
Cada qualidade dos Òrísá que está identificada pelo Ifá está representada por uma estrofe das escrituras do Ifá chamada Ódù.
Existem 256 Ódù e cada Ódù tem ao menos 12 orientações ou qualidades modificadoras. Isto sugere que há ao menos 3072 Òrísá dentro do contexto da cosmologia Ifá.
Entretanto este não é um número definitivo, devido a alguns Òrísá são identificados como grupamentos do Ódù, o que significa que as combinações possíveis do Ódù são potencialmente ilimitadas. Nas escrituras do Ifá o número de Òrìsà é identificado geralmente como 201 ou 401. Parece que ambos os números são simbólicos mas bem que literais, e que se referem a princípios esotéricos dentro da doutrina de numerologia Ifá.
As histórias no capítulo prévio são todas exemplos de esforços pessoais para desenvolver bom caráter no curso de lutas da vida real.
Quando alguém vem a algum awô (Adivinho) com um problema, a experiência de uma pessoa em particular pode ser adicionada ao texto do Ódù como um exemplo do modo em que uma questão em particular se move para a resolução. As experiências pessoais que são adicionadas ao corpo da literatura sagrada, fazem das escrituras Ifá um corpo de sabedoria vivente, em crescimento, que está enraizado na ideia da transformação espiritual.